segunda-feira, 11 de outubro de 2010

De mãos dadas e na porta de casa

Quando eu fiz doze anos, minha mãe me chamou no quarto e me contou a ladainha de coisas que aconteceriam, assim que eu menstruasse, daí que ela aproveitou o gancho pra me falar sobre garotos e sobre namorinhos. Mamãe deixou claro que eu só podia me relacionar com rapazes ''direitos'' e que meu namoro tinha que ser ''na porta de casa'' sob sua vista grossissima. Eu ri da cara dela, porque sinceramente, eu não achava que fosse arranjar um namorado tão cedo. Não numa época em que eu usava blusa preta o tempo inteiro, lápis de olho muito forte o dia inteiro, ouvia Linkin Park e dava uma de rebelde full time, tratando todos com desprezo.
Mas não é que um dia eu estava andando pelo pátio e um rapaz de cabelos muito cacheados e aparência engraçada puxou papo comigo? Ele era legal, e mais velho. Ou seja. Daí eu fiquei empolgada e voltei pra contar pras amigas.
Veio a bomba: AQUELE ALI É O VALENTÃO DO COLÉGIO! ELE NÃO PRESTA, ELE É MAU! SE AFASTA DELE!
Cheguei em casa, contei pra mamãe e para o meu espanto ela sorriu e disse ''Vá em frente, minha filha. Ele não deve ser tão mau assim..''
Ela acabara de cometer o maior erro de sua vida, porque até hoje eu tenho essa frase introjetada na minha cabeça, e a aplico sempre que um cara tem potencial concreto de acabar com a minha vida (mas discutimos isso mais tarde).
O fato é que eu e o valentão começamos a nos falar sempre. E nosso primeiro beijo, diferente do MEU primeiro beijo, teve tudo o que a gente espera de um. E meu coração saltou pra fora, dançou um mambo e cantou uma música. Eu estava realmente apaixonadinha pelo cara mais louco do colégio! Não é demais?
Depois do primeiro, vieram segundos, terceiros e milhares. Ele me pediu em namoro, conheceu a minha mãe -e a tornou fã incondicional dele- e passou a ir na minha casa todos os dias com seu sensacional meio de transporte modernissimo e alto-astral: Uma Bike.
Oito meses se passaram e nesse meio tempo eu ganhei um urso de pelúcia que hoje eu trato como objeto precioso por ser o meu único presente de namoro da história. Mas o valentão começou a ficar chato, grudendo e estranho. E eu comecei a perceber que ele era meio rude, meio feio, meu sem-sal, meio enjoativo, meio 'não-feito-pra-mim'.
Então eu terminei o relacionamento numa noite fria de março em que ele me trouxe um chocolatinho e me deu um abraço de saudades e me perguntou se eu estava bem.
''Não'', respondi. ''O que houve?'', perguntou inocente.
''Houve que eu não quero namorar mais. Não tô pronta, não sou madura. Não dá.''
Ele insistiu por dois minutos, deu-se por vencido e foi embora. Não antes de dizer ''Você tem certeza? Quando eu cruzar aquela esquina, eu não volto mais. Não te procuro mais, eu vou sumir da sua vida''.
Pra um cara, então com 16 anos isso havia sido muito profundo. Mas pra uma garota, então com 14, isso não havia significado nada. Eu acenei com a cabeça e o observei subir a ladeira empurrando sua bike. (E ele realmente sumiu depois disso!)

E assim  foi o meu primeiro namoro.

Eu gostei um pouco. E acredito que depois dele não tenha encontrado alguém tão paciente com esse meu jeito. Queria ter sido legal pra ele como ele foi pra mim.
O moço ali me ensinou coisas maravilhosas como: dar lixa com dois dedos da mão, contar piadas, me apaixonar por engenheiros do hawaii, ver beleza nas coisas e entender a maravilha de gestos simples como andar de mãos dadas voltando pra casa, e sentar na escada da minha casa pra analisar o céu no crepúsculo.
Pena que só entendi isso mais tarde.

2 comentários:

  1. Mas, pelo menos você entendeu e vai saber aplicar mais pra frente em outros relacionamentos. Algumas pessoas passam na nossa vida realmente para deixar aquelas coisas que nós nunca vamos esquecer e me parece que foi assim com você e esse cara...
    Lindo texto.

    Beijos

    ResponderExcluir
  2. Desculpa mesmo, mas eu ri.
    Sabe é necessário passarmos por isso.

    -M.

    ResponderExcluir